domingo, 16 de dezembro de 2012

Batizado emociona fiés

No dia 11 de novembro, ocorreu na Comunidade Cristo Rei o batizado de Olívia de Amorim Flores, filha de Laine Chapada de Amorim e Paulo Flores. A celebração foi realizada pelo frei Odécio Lima de Souza (ofm). Os padrinhos de batismo são Edmur Primo Delcolli Júnior e Maria Isabel Vendramin Delcolli e de consagração à Nossa Senhora são as duas avós. Com uma celebração repleta de significados litúrgicos e folheto elaborado propriamente para a ocasião, muitos dos presentes se emocionaram e afirmam ser o batizado mais bonito que já viram.

  Católicos atuantes na comunidade, em outras instâncias eclesiais e na sociedade, os pais batizaram sua filha não por tradição, mas por acreditar em Nosso Senhor Jesus Cristo e na nova aliança que Ele fez com seu povo, com nosso povo.
Como diz o Catecismo da Igreja Católica (1253), “o batismo é o sacramento da fé. Mas a fé tem necessidade da comunidade”. No batismo de uma criança, como a Olívia, sabemos que a fé ainda não é perfeita, madura, mas uma fé que precisa se desenvolver. Pais e padrinhos afirmaram estar plenamente conscientes da responsabilidade que têm pelo desenvolvimento desta fé e pela conservação da graça que a Olívia recebeu naquele dia, mas, respeitando o que diz o catecismo (1255) a apresentaram à comunidade para que esta contribuísse com eles nesta tarefa.

Entrega das doações ao Amparo Maternal.

Ao final da celebração, como ato concreto, os pais anunciaram a doação de 12 latas de leite NAN1 e de 56 fraldas de pano, feita pelos convidados, ao Amparo Maternal. A entrega à instituição, acompanhada pela tecelã do amor Marlene Vilutis, foi concretiza no dia 10 de dezembro.

sábado, 29 de setembro de 2012

Um tal Jesus - Capítulo 15: O vendedor de bugigangas

Jesus escolhe mais um de seus apóstolos. Mais uma vez, opta por um humilde, uma pessoa que, na escala de valores da sociedade, nada vale. Mas, Deus escolhe os humildes. Para Ele, a transformação da sociedade em um mundo de justiça, liberdade e vida para todos será feita pelos pobres, pelos trabalhadores.


O vendedor de bugigangas

No terceiro dia da semana, a praça de Cafarnaum se enchia de cores e gritos. Era dia de mercado. As pessoas dos povoados vizinhos vinham comprar e vender frutas, tecidos e tortas de mel...

Felipe: Pentes e ..., anéis, gargantilhas, colares e sapatilhas!!!... Anéis de noiva, brincos de casada, pulseiras de viúva!... Amuletos contra mal-olhado e contra todos os incômodos!...Sapatos, chinelos, comprem agora, porque já estou indo embora!...

Nosso amigo Felipe vinha sempre ao mercado de Cafarnaum carregado de coisas. Levava na cabeça um turbante velho e desbotado de listas amarelas e empurrava um carroção destrambelhado, cheio de cacarecos... Com uma corneta desafinada, Felipe fazia mais barulho que ninguém na praça. As mulheres de Cafarnaum eram boas clientes suas. Embora enganasse sempre nos preços, maquinava um jeito de trazer todas as semanas mil bugigangas novas. Ao redor dele sempre havia uma nuvem de mulheres, pechinchando e remexendo tudo...

Felipe: Olhe-se, olhe-se nesse espelho, minha senhora!... Você está mais bonita que um botão de tomate!... Cinco moedas, cinco moedas nada mais!... Espelhinhos e espelho, troco dois novos por um velho...! Maria, Maria!, eu lhe trouxe o ruge, garota... aqui está!.... Está bem, está bem, você me paga na semana que vem!... Olhe, olhe, devolva isso aqui, não fique mexendo tanto, essa é uma mercadoria delicada...! Ervas, as melhores ervas! Faça um caldo quente com essas ervas do Oriente!
Salomé: Felipe! Ô, Felipe!
Felipe: O que foi, dona Salomé? Quer algum pente, um perfume? Venha, ponha o nariz aqui... cheire este novo que me trouxeram da Arábia...
Salomé: Nada de perfumes, já estou velha para isso. Olhe, quando puder, dê uma passadinha lá em casa para tomar aquela sopa.
Felipe: Caramba, nem me fale nisso, dona Salomé!... A verdade é que estou com uma fome!...
Salomé: Claro, pobre diabo, do jeito que você grita acaba ficando mais gasto que moeda na mão de um avarento!...
Felipe: Olhe, dona Salomé, em troca da sopa, leve essas agulhas!
Salomé: Mas, Felipe, homem, o convite que eu faço é com muito gosto. Não tem de me dar nada em troca. Quando precisar de alguma coisa eu lhe direi... Ah, é? Até essa Maria, a madaleninha veio comprar umas pinturas, é? Essa não!...
Felipe: Bem, dona Salomé, para mim todos os clientes são iguais e eu tenho de servir a todo mundo...
Salomé: Desde que chegou aqui tem alvoroçado todos os homens do bairro... Também, com todo esse gingado! Com esses perfumes! Que os maus ventos a levem!...

Felipe: Ai, que delícia que está essa sopa, dona Salomé! Escute, e onde estão João e Tiago?
Salomé: Pois onde você acha que estão? Suando e ganhando o pão... Para os pescadores não há dia de mercado. Todos os dias são iguais: os barcos, as velas, as redes... e de novo começa a mesma ladainha...
Felipe: Então, nenhuma novidade, dona Salomé?
Salomé: Bem, tem uma novidade sim. Está por aqui um rapaz de Nazaré, que parece que meus filhos conheceram lá pelo Jordão... Você não esteve também com João, o profeta?... É bem capaz que o conheça...
Felipe: De Nazaré? Não será Jesus, um moreno contador de histórias?
Salomé: Este mesmo. Sabe contar umas histórias muito divertidas. Nessas noites tem deixado a todos meio abobados até altas horas... Parece um bom sujeito. Está vivendo aqui conosco.
Felipe: E por onde ele andará agora?
Salomé: Deve estar na casa de uma comadre da Rufina, arrumando o telhado.
Felipe: Puxa vida, gostaria de cumprimentá-lo. Vou pra lá agora mesmo!
Salomé: Mas acabe primeiro a sopa, homem. Tenho também umas azeitonas e um pouco de pão, tome.
Felipe: Está certo, dona Salomé. O estômago primeiro, os amigos depois... Além disso, preciso mostrar-lhe uns colares de pedras vermelhas que a senhora vai adorar... e estão saindo muito baratos, vai ver!

Felipe: Ei, Jesus!... Jesus!
Jesus: Caramba, se não é o Felipe!
Felipe: Jesus, moreno, que alegria te ver!
Jesus: Eu também tinha muita vontade de ver sua cara, cabeção... Disseram-me que você estaria vendendo hoje por Cafarnaum.
Felipe: Hoje é dia de mercado. Vim vender, como sempre...
Jesus: E onde você deixou o carroção?
Felipe: Lá na casa da Salomé. Foi ela quem me disse que você andava por aqui. Mas eu ainda não vi os moleques do Zebedeu, nem André, nem Pedro.... Mas tudo bem.... E você, o que está fazendo por aqui?...
Jesus: Você vai ver. Agora estou colocando o teto da casa para uma comadre da mulher de Pedro e assim ganho um par de denários. Olhe como estavam podres essas taboas... Se descuidam mais um pouco elas lhes cairiam em cima...
Felipe: Salomé me disse que você veio de vez pra cá... O que houve? Aborrecido com Nazaré? Não, não precisa falar mais nada. Eu entendo, Jesus. Aquilo era tranqüilo demais, não é? Eu nunca vou lá. Ninguém compra nada.
Jesus: Há pouco dinheiro, você sabe.
Felipe: E então você se mudou pras bandas de Cafarnaum? Parabéns, Jesus! Fico contente! Assim nos veremos mais vezes. Eu venho aqui todas as semanas...
Jesus: Bem, Felipe, a verdade é que não vim pra cá por estar aborrecido com Nazaré. Eu gosto daquilo. Mas também gosto disso, no entanto... vim porque...
Felipe: Porque se apaixonou por alguma garota de Cafarnaum! Não, não precisa dizer mais nada! Já entendi tudo, Jesus. O tempo passa, a gente vai ficando velho e isso de ter uma casinha, uma mulher, os filhos... Fico contente, homem. Contente de verdade!
Jesus: Não é nada disso, Felipe. Olhe, você quando vem vender, já chega embalado e não pára de falar... Deixe-me dizer.
Felipe: Muito bem, pois então me diga.
Jesus: Olhe, ontem estivemos conversando, os filhos de Zebedeu, André, Pedro e eu. Queremos fazer alguma coisa. Calaram a voz do profeta João, mas nós ainda temos língua. Podemos continuar falando às pessoas como ele fazia, podemos continuar anunciando o Reino de Deus... Mas isso tem de ser feito com todos juntos.
Felipe: Ei, o que você está dizendo?!... Isso quem sabia fazer era João. Com aquela cabeleira, aquela voz que estrondava... Mas nós... vocês estão ficando loucos!
Jesus: Não, Felipe, não estamos loucos. Temos de fazer alguma coisa. E não vamos esperar que os outros façam. Vamos começar a fazer nós mesmos. Dentro de pouco tempo seremos muitos. Deus está do nosso lado.
Felipe: Bem, moreno, pois me alegro por isso também. Se você veio pra revolucionar, fico contente. E lhe desejo muita sorte.
Jesus: Felipe, acontece que estamos contando com você.
Felipe: Comigo?... Comigo?
Jesus: Sim, homem, com você. Por que está estranhando tanto?
Felipe: Porque eu não sirvo pra isso, Jesus. Eu só sei apregoar pentes, espelhos... eu só entendo do meu negócio. É claro que eu quero que haja justiça neste país. E primeiro de tudo comigo que sou um morto de fome... Mas se nem eu mesmo me agüento, como vou empurrar os outros...?
Jesus: Faremos alguma coisa, Felipe, você vai ver.
Felipe: Eu sou um burro de duas patas, Jesus, um ignorante. João o Batizador havia estudado as Escrituras Santas e sabia o que tinha de dizer. Mas como nós vamos fazer o mesmo que ele? Bem, isso fica para os outros. No que eles disserem eu não me meto. Mas eu... eu não sei falar, nem ler. Ouvi as Escrituras quando era pequenino na Sinagoga, mas eu me aborrecia tanto que não aprendi nada. Eu não sirvo para essas pregações de justiça... É melhor você me deixar com a minha corneta, com meu carroção...
Jesus: Mas, Felipe, todos nós também somos uns ignorantes, como você... Quem é Pedro, hein? Quem é Tiago?... E quem sou eu? Mas olhe, eu me lembro de um salmo que diz: “com os mais pequeninos, como os meninos de peito, Deus faz coisas grandes”.
Felipe: Pois você está melhor que eu, porque ao menos se lembra de alguma coisa da Escritura... Bem, e o que você quer me dizer com essas palavras?
Jesus: Que diante de Deus as pessoas que mais valem são esses: os que são pouca coisa. Como nós, como você. É por isso mesmo que você serve para nosso grupo.
Felipe: Bom, isso até que soa bem... Mas para mim não dá, deixe-me com o meu negócio! Eu não quero me meter em nenhuma confusão! E lhe digo mais uma vez que não sirvo para isso.
Jesus: Felipe, e Moisés? Não foi Moisés que formou o nosso povo com um bando de escravos mulambentos, que não tinham nem um pedaço de terra seu?
Felipe: É, nisto você está certo. Mas eu acho que eles tinham alguma coisa...
Jesus: Tinham esperança e ganas de lutar. Nada mais, Felipe. O mesmo que nós temos agora: esperança e ganas de lutar!
Felipe: Bem, aí também tenho de lhe dar razão... Mas você ainda não me convenceu! Eu tenho a cabeça muito grande e muito dura!
Jesus: Felipe, quem foi o rei Davi? Um pastor de ovelhas, um pobretão! E quem foi Jeremias, o profeta? Um menino que não sabia nem falar. E o profeta Amós? Um camponês que estava arando a terra quando Deus o chamou... Deus escolhe os fracos, os pobres, para confundir a cabeça dos sábios... Escute, cabeçudo, queremos que você esteja no nosso grupo. Sim, nós somos uns ignorantes e uns esfarrapados, mas todos juntos podemos fazer alguma coisa!
Felipe: Mas, Jesus, se eu me meto nisso... como fica o meu negócio? Como é que eu vou para o Jordão batizar as pessoas no rio? O que é que eu faço com o meu carroção, hein?...
Jesus: Mas nós não iremos tão longe, homem. As pessoas já foram ao Jordão e se batizaram para preparar o caminho do Libertador de Israel. Agora temos de fazer outra coisa, não sei...
Felipe: A única coisa que sei fazer é ir de povoado em povoado apregoando bugigangas... Não, disso você não me tira...
Jesus: Pois podemos ir de povoado em povoado apregoando o Reino que Deus traz entre as mãos... É, até que não é má a sua ideia.
Felipe: Homem, se é assim, então eu me meto nesse grupo... Na melhor das hipóteses eu até melhoro meu negócio... A gente se põe a anunciar os planos de Deus e... e eu aproveito e vendo uns colares!... Agora você me convenceu, moreno!
Jesus: Pois olhe, vou deixar esse telhado de lado um pouco e vamos procurar os outros para falar com eles...
Felipe: Você sabe onde estarão agora?
Jesus: Devem estar lá pelo cais. Vem, Felipe, segue-me...

Pouco depois, no embarcadouro...

Pedro: Então, Felipe, vai se meter nisso?
Felipe: Esse Jesus me encheu a cabeça com palavras bonitas e acabei fisgado pelo anzol
João: Pois olhe que para encher uma cabeça tão grande, ele deve ter falado muito!...
Tiago: Escute bem, Felipe, nós estamos nos metendo em uma confusão muito séria. Vamos começar a trabalhar por nossa própria conta, sem contar com os zelotas, compreende? Aqui tem que ser valente, está ouvindo?
Felipe: Bem Tiago, eu farei o que puder. Mas não venha você agora me meter medo. Já disse a Jesus que eu gosto desse negócio de ir de povoado em povoado. Eu levo minha corneta e meu carroção e aproveito para...
Tiago: Mas o que tem a ver sua corneta com o que estamos planejando?
João: Deixe pra lá, Tiago, Felipe é meio tonto!
Felipe: Ah, é mesmo? Então eu sou tonto, né? Vamos ver se você é homem pra repetir isso, anda...
Pedro: Já chega, Felipe. Quer entrar para o grupo ou não?
Felipe: Já estou dentro, Pedro. E daqui não saio. Se me deixarem de fora eu estripo todo mundo. Vamos lá! Mão com mão!

Felipe, de Betsáida da Galiléia, se uniu ao nosso grupo. Não sabíamos então muito bem por onde começar nem o que fazer. Éramos só seis. E só tínhamos esperança e ganas de lutar.

Comentários
Existem poucos dados no Evangelho sobre o apóstolo Felipe. Era de Betsáida, uma aldeia situada ao norte do lago, na margem oriental do Jordão, que não pertencia politicamente à Galiléia. “Betsáida” significa “Casa do Pescado”. Ali haviam nascido também os irmãos Pedro e André. No relato, Felipe é um mascate, vendedor de quinquilharias. Este era um ofício comum na época e estava classificado como “desprezível” junto a muitos outros ofícios populares que rebaixavam socialmente aqueles que os exerciam. Uma das razões para considerar o mascate como desprezível era que, por seu trabalho, tinha de relacionar-se com mulheres. Por isso, sem mais, suspeito de imoralidade. Os que exerciam este ou outros ofícios classificados nas listas públicas como desprezíveis não podiam ocupar nenhum cargo de responsabilidade comunitária.

Jesus, como demonstra mais de uma vez o Evangelho, não se deteve diante das leis, das normas, das tradições, dos arraigados costumes do povo. Não discriminou ninguém. Como Deus que não se fixa nas aparências (I Sam 16,7). Em Jesus, Deus se revela mais uma vez, definitivamente, como o Deus que escolhe os humildes para confundir os orgulhosos, os que nada são para subverter os valores dos que se creem alguma coisa (I Cor 1,26-29). O Escolhido de Deus, seu filho, Jesus de Nazaré, é um camponês pobre e sem cultura. E aqueles que Jesus escolhe são os pobres, os de baixo, os “anawim” de Israel. A Igreja de Jesus está chamada a ser a comunidade dos pobres, um espaço de liberdade e de fraternidade, onde os homens não adorem ao deus dinheiro, nem valham mais nem menos por sua cultura, sua posição social ou seus títulos.

Como Jesus lembra a Felipe, Israel se formou como povo a partir de um pequeno grupo de escravos famintos, desgastados por duros trabalhos, que puseram em Deus e em Moisés sua esperança. Quando os pobres despertam e se organizam, quando se põem em marcha e, sem se inferiorizar por suas limitações, se apoiam em Deus e na força de sua união, Deus se faz presente no meio deles. Em toda história de libertação do povo, Deus é aliado dos humildes e põe a cara por eles. Porque é através da ação, do compromisso e da esperança dos pobres que Deus transforma a história.

(João 1,43-44)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Encontro com cadidatos católicos

A Paróquia / Santuário São Judas Tadeu realiza na quarta-feira (26/9), às 20h, um encontro com candidatos católicos ao cargo de vereador da cidade de São Paulo.
 
Oa candidatos se apresentarão e falarão o que pretendem fazer caso sejam eleitos.
 
O Santuário fica na av. Jabaquara, 2.682 (próximo à estação São Judas do Metrô).
 
A atividade será realizada no Salão São Judas, que fica em frente à secretaria paroquial.

Pastoral da Juventude lança roteiro sobre as eleições

Querida juventude,

“Felizes os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.”
(Mt 5,9)

O Brasil vive um momento de mudanças no cenário político nos municípios. É o tempo das eleições municipais, fato este que afetam diretamente as nossas vidas, seja pelo envolvimento próximo de muitos/as jovens, seja pela simples noção de que o nosso voto interferirá na sociedade em que vivemos pelos próximos quatro anos.
Nas eleições de 2012, mais de um milhão de jovens com 16 anos deverão votar pela primeira vez. Somados aos/as jovens de 17 a 20 anos, eles são mais de 11 milhões de eleitores. Temos também os/as mais de 17 mil jovens na faixa etária entre os 18 a 24 anos, que são candidatos aos cargos de vereador ou prefeito. Dentre eles/as muitos oriundos de uma caminhada e participação eclesial, em especial na PJ. A participação dos/as jovens na política é uma oportunidade de contribuir para a maturidade da democracia no país e boa parcela dos/as jovens brasileiros estão, sim, dispostos a participar das decisões políticas do país.
Neste intuito, a Pastoral da Juventude (PJ) aproveita este momento importante para ajudar os grupos de base a refletirem melhor sobre a participação da juventude na política. Apesar dos sucessivos fatos apresentados pela mídia, especialmente nas redes sociais, desmotivando a participação da sociedade na política, é preciso ter em mente que o período das eleições é um momento que suscita na sociedade a possibilidade de mudança deste cenário. Além disso, estamos em sintonia com a proposta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que este ano motiva nos cristãos e em toda a sociedade a reflexão do voto consciente, para que não sejam reeleitos candidatos de “ficha suja”. Outra proposta é promover o voto consciente que surge da necessidade de não permitir a venda de votos, uma prática que apesar de antiga e considerada ultrapassada, ainda persiste e ressurge de várias maneiras nos períodos eleitorais.
Queremos com este subsidio dialogar sobre a política para e com os/as jovens, do nosso jeito de ser Igreja, de forma simples e com uma linguagem acessível. Por isso elaboramos um roteiro para encontro dos grupos de base e rodas de conversa, divididos em dois blocos. Segue ainda, em anexo, o material da CNBB “Voto Consciente – Eleições 2012” e o documento “Pacto pela Juventude”, uma proposição das organizações da sociedade civil que compõe o Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), para que os governos federal, estaduais e municipais se comprometam com as políticas públicas de juventude em suas ações e programas, e aos candidatos/as a prefeitos/as e vereadores/as para que incorporem as demandas juvenis em suas plataformas eleitorais.
Desejamos que este material chegue aos nossos/as jovens, bem como a vontade de mudar a sociedade em que vivemos, que inicia com o bom emprego do nosso voto.

Bom trabalho a todos/as e boa eleição!

Coordenação Nacional e Comissão Nacional de Assessores/as da
Pastoral da Juventude

Baixe o subsídio no link:

Autor/Fonte: Teias da Comunicação

sábado, 15 de setembro de 2012

Um tal Jesus – Capítulo 14: Os cinco primeiros

Começa a ser formado o “grupo” de Jesus. Neste capítulo da novela sobre o contexto histórico e a trajetória de Jesus, veremos como e o que levou Jesus e os apóstolos a se juntar para pregar a Boa-Nova do Reino de Deus.

Os cinco primeiros

Enquanto os galos de Cafarnaum ainda dormiam, nós pescadores nos levantávamos. Um a um, com os olhos pregados de sono, íamos saindo de nossas casas. Desenrolávamos as redes e nos reuníamos no pequeno cais da cidade, onde ancorávamos nossas barcas de pesca e onde a cada dia os mais velhos do grupo distribuíam o trabalho...

Zebedeu: Boa madrugadona, rapazes!... Brr... que frio está fazendo!... Vamos, vamos, aviem-se que há vento das montanhas e a pesca será boa... Jonas, camarada, vai até lá com o seu pessoal... Mellizo, você e eu nos distanciaremos até aquela curva... E vocês, para as barcas!...Ânimo, rapaziada, que hoje será um dia de sorte!...

Os remos se afundavam nas águas tranquilas do lago e o vento norte se ocupava de enfunar as velas de nossas barcas. Lá no fundo, lançavam a rede grande para pegar os melhores peixes. Outro grupo ficava na margem com cestas e linhadas, para pegar os peixes pequenos, os dourados e as enguias.

Jonas: Essa rede!... Estique essa rede, animal!... Entre mais, Pedro, não se desvie. Pra lá!... Pra lá!... Temos um cardume de dourados à esquerda. Ânimo, rapazes!...

Já fazia uma semana que Jesus estava conosco em Cafarnaum. Durante o dia procurava trabalho no povoado e à noite nos reuníamos em minha casa para bebermos vinho e contar histórias. Era um bom amigo esse Jesus. Logo pegamos confiança nele, como se ele fosse mais um da família... Naquela manhã, quando acordou, já fazia um bom tempo que nós estávamos lutando com as ondas do lago... Jesus atravessou o bairro dos pescadores, deixou para trás as palmeiras que rodeavam o embarcadouro e saiu a andar pela margem...

Jonas: André, vai dar uma mão pro Pedro!... E você também, cara de sapo!... Vamos moleques, todos juntos!... Um, dois, três!... Jáááá!
Marinheiros: Jááá!...
Jonas: Outra vez!
Marinheiros: Jááá!...
Jonas: Vamos lá, marinheiroooos!
Marinheiros: Jááá!...
Jonas: Aí, valentes do Tiberíades!
Marinheiros: Jááá!...
Jonas: É isso aí, forçudos de Betsáida!
Marinheiros: Jááá!...
Jonas: Onde estão os machos de Cafarnaum?!...
Marinheiros: Jááá!...
Jonas: Já, já, já, já!
Marinheiros: Já, já, já, já!...
Pedro: Porcaria de rede, os nós estão podres! Uff!
André: Ei, Pedro, aquele que vem vindo pela margem, não é Jesus? Lá em baixo, olhe!...
Pedro: Sim, é ele mesmo!... Até que enfim mostra as orelhas o moreno de Nazaré!... Pelo que se vê esses camponeses do interior não gostam muito de madrugar. Ei, você de Nazaré!... Espere aí que já vamos sair da água!...
Jonas: Pedro, aonde vai?!...  André, seu estúpido, não solte a corda ainda!...
André: A rede vem vazia, nem dourados nem nada!...
Pedro: Temos um hóspede, vamos recebê-lo!
Jonas: Pros diabos, vocês e seu hóspede!... Desde que esse sujeito chegou não fazem outra coisa do que bater papo... charlatães!...
Jesus: Pois olhem, dormi como um tronco. Estou indo lá pra casa da comadre Rufina que está com a casa meio derrubada. Se eu levanto a parede e prego o teto, dá pra ganhar um par de denários.
Pedro: Deixa isso pra depois. Pra trabalhar sempre há tempo. Olhe, vamos lá até aquela curva, procuramos os filhos de Zebedeu e assamos uns bons dourados no cais, o que acha? Topa?
Jesus: Espere aí, Pedro, vocês estão trabalhando e...
Pedro: Bah, não se preocupe com isso, Jesus. Já estou até aqui de ficar lançando a rede nessa enseada.
André: Esse é Jonas, nosso pai, e tem a cabeça mais dura que uma pedra de moinho.
Pedro: “Um cardume de dourados! Um cardume de dourados!”...  E você se cansa de lançar a rede e não pega nem caranguejo!
Jesus: Esse negócio de lançar rede deve ser difícil, não? Nesses dias fiquei olhando como vocês fazem...
André: Ih, rapaz, não é tudo isso não! É só uma questão de se acostumar a trabalhar em grupo. Enquanto um estica as boias, o outro puxa as amarras, o outro se vira com os cestos... e assim vai. Você irá aprender.
Pedro: Magrão! Pra este aqui, primeiro tem de ensinar a nadar, porque esses camponeses nem isso sabem.
Jesus: Tem razão, Pedro! Digamos que a água e eu não nos damos muito bem...
André: Mas então, Jesus... você pensa em ficar alguns dias mais aqui por Cafarnaum?
Jesus: Pois é, veja... não sei... depende.
Pedro: Depende de quê?
Jesus: Depende de vocês.
Pedro: De nossa parte não há problema, não é mesmo, André? Na casa de Zebedeu ou na minha casa você pode ficar o tempo que quiser. Não lhe faltará nem pão nem um canto pra dormir.
André: E como você já viu, trabalho sempre aparece. Ora é uma parede aqui, ora umas mesas ali...
Jesus: Não. Não é bem por isso. Não estou pensando nisso agora...
Pedro: O que acontece então?
Jesus: Nada, é que... Sabem, quando estive no deserto, depois que nos despedimos lá no Jordão, se lembram, minha cabeça deu muitas voltas...
Pedro: E aí? Ficou tonto com tantas voltas, não é isso?
Jesus: Escute, Pedro. O profeta João continua preso. Já não há mais ninguém que reclame por justiça. Enquanto isso, nós ... está entendendo? O que fazemos, hein? Falamos muito, mas com os braços cruzados.
Pedro: Era isso mesmo que eu estava dizendo ontem: muita história, muito batismo e muito palavrório. Mas, na hora da verdade, todos nós deixamos o profeta sozinho. Veja só: o que está pensando o Movimento? Por que os zelotas não planejam um resgate?
André: O cárcere de Maqueronte está muito isolado entre as montanhas. Assaltar aquilo seria muito difícil...
Pedro: O que é isso de difícil!... O que não podemos permitir é que a voz de João seja levada pelo vento. Acho que já está na hora da gente agir por conta própria, que caramba!...
André: O que você anda pensando, Jesus? Tem algum plano?
Jesus: Nada especial, André, mas... Não sei, vendo vocês lançando as redes, me ocorreu que... Vejam: por que não fazemos o mesmo que vocês fazem para pescar? Jogam a rede juntos, recolhem juntos. Por que não começamos a fazer alguma coisa, mas juntos?
Pedro: É isso que eu digo. Falar menos e fazer mais. Para rachar cabeças de romanos não precisa de palavras, mas de pedradas. Gosto desta ideia de Jesus: trabalhar por nossa conta, sem esperar pelas ordens do Movimento. A gente faz as leis!
Jesus: Deixe as pedradas e as leis pra lá, Pedro... O importante agora é nos unirmos. Formarmos um grupo, ou algo assim...
Pedro: Eu lhe digo que gosto muito dessa ideia, sim senhor. Aonde vai um, vão todos. Corremos juntos o perigo e celebramos juntos a vitória. Isso está bem pensado: formamos um grupo e atacamos de surpresa.
André: Espere aí, Pedro! Isso não está claro. Um grupo... pra fazer o que, Jesus?
Jesus: Bom, André, para... para continuar o trabalho do profeta João, para falar ao povo e dizer-lhe: Agora sim! Agora chegou a vez de Deus. Deus vai lançar as redes por esses mares e é preciso estar alerta. Porque Deus não gosta do jeito como vão as coisas. Chegou o tempo em que o peixe grande já não comerá o peixe pequeno.
Pedro: Maravilha, Jesus! Quando começamos?
André: Vamos com calma, Pedro. Isto que Jesus diz está muito certo, mas... mas temos de ir com cuidado. Aqui farejam qualquer conspiração bem de longe. Se organizarmos algo, temos de medir bem os passos.
Jesus: Está com medo, André?
André: Medo não, Jesus. Mas também não quero que me cassem como a um rato.
Jesus: E você, Pedro, tem medo?
Pedro: Medo eu?... Você não me conhece, moreno. Medo?... Eu não conheço esse sujeito!
Jesus: Pois eu tenho. No deserto compreendi que o que eu tinha era medo. Medo de arriscar o pescoço, compreendem? Mas Deus irá nos dando a força necessária para ir em frente, não acham?
Pedro: Claro que sim, homem. Dos covardes não se escreveu nada até hoje. Venha, vamos falar com Tiago e João, pra ver o que dizem esses bandidos!

Pedro, André e Jesus se puseram a andar pela margem do lago até a curva onde estavam as barcas de Zebedeu. Meu irmão Tiago e eu estávamos com nosso pai remendando umas redes velhas...

Pedro: Lá estão eles... Aquele que está no meio, de ceroulas, é o Tiago...
Jesus: Ei, você, Tiago... venha cá, corre, cabelo de fogo, queremos falar com você!
Pedro: Não está por aí o maluco do João?
Jesus: Venha, João!... Deixe as redes e venha cá um momento!
João: Já estamos indo, esperem!
Zebedeu: Ei, ei, moleques, aonde vão?... Ainda não está na hora da sopa. Maldição com essa juventude! Juro que hoje vão dormir com o estômago vazio! Par de vagabundos!
Tiago: Companheiros, hoje seria um bom dia para mostrar a cidade ao nosso amigo. Desde que chegou não faz outra coisa que assentar tijolos e pregar pregos. Não, senhor, hoje vamos nos divertir. Olhe, Jesus, Cafarnaum tem fama de uma cidade alegre. E é verdade. Aqui nunca falta um baile nem uma jarra de vinho... nem muito menos mulheres. Agora está aqui pelo bairro uma tal Maria, de Magdala, que é uma belezura... aiaiaiiiii!
André: Escute, cabelo de fogo, deixe isso pra lá e vamos falar de coisas sérias. Jesus tem um plano. Estivemos falando de formar um grupo sem contar com o Movimento...

Nós cinco fomos caminhando até o cais, discutindo sobre o grupo e o que íamos fazer. Lá, no embarcadouro, juntamos lenha, fizemos fogo e pusemos sobre as brasas uns quantos dourados...

Tiago: Pois eu digo que o que precisamos é de armas.
Jesus: Armas para que, Tiago?
Tiago: Como para que? Para matar romanos. Você não acaba de dizer que o peixe grande come o pequeno e que há que acabar com isso? Pois vamos liquidar uns quantos peixes grandes!
Jesus: Espere, Tiago. Vocês mesmos me disseram que um bom pescador não faz muito barulho porque isso espanta os peixes. E é isso que precisamos fazer agora: começar reunindo os peixes pequenos para que se tornem fortes e não se deixem comer pelos peixes grandes, não acham? Deus também começou assim quando disse a Moisés que organizasse todos aqueles israelitas dispersos para que juntos desafiassem o faraó e escapassem de seus dentes...
Pedro: Bem falado, Jesus. E eu acredito que há muitos que se unirão a nós se soubermos jogar bem as redes.
André: Podemos falar com Felipe, o vendedor.
João: E com o Natanael, de Caná!
Jesus: E então? Decidimos fazer alguma coisa? O que você acha, Tiago?
Tiago: Está bem, Jesus. Estou no grupo. Já veremos por onde começar. Mão com mão!
Jesus: E você, João, caça-briga, está de acordo?
João: Eu estou. Contem comigo!
Jesus: E o que diz o magricela do André?
André: O que já disse antes. Que sim. Mas com os olhos bem abertos. Mão com mão!
Jesus: E você, Pedro-pedrada, está com a gente?
Pedro: E você ainda pergunta, Jesus? Não dou um passo atrás nem pra pegar impulso! Eu digo três vezes: sim! sim! sim! Dê essa mão aí! E agora falta você, moreno. O que você diz? Está no grupo, Jesus?
Jesus: Sim. Eu também ponho a mão neste arado e já não volto a olhar para trás. Mão com mão, companheiros!

E assim, naquele cais de Cafarnaum, todos agachados junto ao fogo, esperando assar os dourados, começamos nosso grupo. Éramos apenas cinco.

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A pesca era o principal meio de vida em todas as cidades ou pequenas aldeias que rodeavam o lago de Tiberíades. Naqueles tempos, o ofício de pescador era próprio das pessoas das classes mais baixas, sem cultura, que não cumpriam com os deveres religiosos e estavam à margem de muitas outras pautas sociais de “boa educação”. Junto com os camponeses e outros estratos sociais pobres, formavam os chamados “amhaares” (primitivamente, “povo da terra, patrício”; mas depois, “pecadores, malditos sem lei”). Os pescadores das margens do lago eram trabalhadores dependentes de um patrão a quem tinham que entregar boa parte dos lucros, ou então independentes por grupos familiares e formando pequenas cooperativas com o que tentavam aliviar o grande aperto econômico em que viviam.
Conservam-se ainda restos de pequenos embarcadouros do tempo de Jesus, em diferentes pontos do lago. Há que mencionar o de Tabgha, a uns três quilômetros de Cafarnaum, com escadarias de quase dois mil anos. O cais de Cafarnaum está em parte reconstruído.
Entre pescadores, Jesus recrutou seus primeiros discípulos dos quais foi , antes de mais nada, um amigo. Com eles, em grupo, em comunidade, Jesus ia descobrindo sua vocação. E o próprio grupo, sua missão de anunciar o Reino de Deus naquele mundo em que tantas coisas tinham de mudar. Os cinco primeiros e, depois, aqueles doze incondicionais que acompanharam Jesus, vem a ser algo assim como a primeira comunidade de base.
No início de qualquer obra humana ocorrem tentativas, imaturidades, buscas. Os planos nunca estão perfeitamente definidos nem tampouco se conhece exatamente a meta, onde tudo vai dar. Daí o risco. E por isso também a confiança que se põe em Deus, ao se colocar em suas mãos a sorte da obra empreendida. Com o grupo de Jesus e seus amigos aconteceria o mesmo. No interior desse grupo, a liderança de Jesus não seria algo imposto ou dado desde o começo, mas que iria se fazendo, iria se construindo. Aqueles primeiros pescadores de Cafarnaum veriam pouco a pouco em Jesus o grande companheiro, o melhor amigo, o líder natural de vontade firme e atitudes generosas. E, finalmente, aquele que devia pastorear o povo e pôr-se à sua frente, o libertador que esperavam.
O trabalho ao qual Jesus convida seus amigos é um trabalho fatigante e comunitário: lançar as redes. O Reino de Deus exige um trabalho de equipe. Também exige paciência, tempo, observação, estratégia, astúcia, como na pesca. Jesus lhes fala também que Deus vai lançar as redes, de um Deus pescador. É uma imagem recolhida na parábola da rede de arrastão (Mt 13,47-50)  que quer significar o juízo de Deus sobre o mundo: separam-se os peixes bons dos maus (naquele tempo se entendia por “peixes maus” os que não tinham escamas nem barbatanas, do tipo das enguias e que não eram bons para comer). Ao falar a esses primeiros discípulos, Jesus lhes diz que é chegada a hora desse juízo de Deus. O símbolo do peixe mau ou bom se substitui pelo peixe grande e o pequeno.
(Mateus 4,18-22; Marcos 1,16-20; Lucas 5,1-11)

sábado, 8 de setembro de 2012

"O futuro da Igreja está na mão do laicado"

O texto abaixo foi publicado no site da Adital. É uma entrevista com Dom Tomás Balduíno, bispo emérito da cidade de Goiás e conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Nestes tempos em que a Igreja reflete sobre o Concílio Vaticano II, não pode deixar de ser lido por todo cristão, e especificamente católico, que tem atuação pastoral efetiva.


31.08.12 - Brasil
Entrevista - Dom Tomás Balduíno: O futuro da Igreja está na mão do laicado, não da hierarquia

Ermanno Allegri
Diretor da ADITAL
Adital
Bispo emérito da cidade de Goiás e conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dom Tomás Balduíno está em Fortaleza, Ceará, onde participa do Simpósio "50 Anos do Concílio Vaticano II e 40 Anos da Teologia da Libertação – O que o Espírito diz às Igrejas?”. O evento se encerra amanhã (1) e é realizado pelo Movimento Formação Cristã Libertadora.
Em entrevista a ADITAL, Dom Tomás fala sobre as mudanças na Igreja geradas pelo Concílio Vaticano II, enfatiza o importante papel dos leigos e leigas e contextualiza o cenário da América Latina.
ADITAL– O Concílio Vaticano II foi o momento em que a Sagrada Escritura foi o foco central, voltou a ser o interesse central da Igreja e começa, sobretudo, a chegar às mãos do povo, nas mãos dos cristãos, dos leigos. Isso causou alguma mudança dentro da Igreja?
Dom Tomás Balduíno- Causou muitas mudanças. Eu falo do caso da América Latina em que havia já uma busca de contato com a bíblia, com a palavra de Deus nas comunidades, sobretudo, considerada em situação de inferioridade com relação aos crentes que lidavam muito bem com a bíblia. Então, entre nós, tivemos a grande chance de Carlos Mesters, do grupo dele, do CEBI, da leitura popular da bíblia. Isso foi como o ovo de Colombo e difundiu muito a bíblia entre nós.
ADITAL- A Igreja Povo de Deus despontou também quase que, se não em contradição, mas como novo valor do Concílio. A Igreja do lado hierárquico não acompanhou essa mudança. Como o senhor vê essa questão, sobretudo, pensando no futuro com tantos teólogos quase que afastados?
Dom Tomás Balduíno- A questão do Povo de Deus tornou-se uma proposta pra dentro da Igreja, que mexeu na estrutura, por isso, teve mais reação por parte da Cúria, eles não esperavam aquele esquema que colocasse o Povo de Deus antes da consideração sobre a Igreja hierárquica. E isso, então, com o Sínodo de 85 já programado por João Paulo II foi a bancarrota, acabou, foi supresso. Quer dizer, teoricamente, ou então curialmente supresso. Na realidade é a nossa força, é a força da nossa pastoral na América Latina, é o Povo de Deus com todas as consequências de participação, de contribuição, de presença, de contradição.
Adital- Sobre a situação da América Latina, hoje nós podemos dizer que há sinais claros de iniciativas concretas que apontam não só para um futuro, mas que mostram uma continuidade. Vendo esse passado, pensando nesses sinais e olhando o futuro, como é que o senhor avalia essa vivência desses setores de Igreja?
Dom Tomás Balduíno- Antes de falar desses sinais, que são sinais luminosos, eu queria mostrar a estratégia, utilizada, sobretudo, pelo Papa João Paulo II de abranger toda a estrutura da Igreja. Ele pegou desde a formação do seminário até a nomeação dos bispos. Passando também pelo direito canônico e pela repressão da Teologia da Libertação. Pegou também o colegiado, uma vez que a nomeação de bispos era de acordo com o sistema romano, então, o colegiado foi desaparecendo e reaparecendo as províncias eclesiásticas. Isso foi uma estratégia que perdura como peso até hoje em toda a diocese, em toda a Igreja no mundo inteiro.
Há sinais claros, concretos de vida continuando com o Concílio Vaticano II, vivendo esse carisma na América Latina. Primeiro os frutos de Medelín, que são as organizações sociais camponesas, indígenas de mulheres que hoje existe. Vivemos as consequências queridas e planejadas por Medelín no sentido das comunidades, dos seus agentes sujeitos, autores e destinatários da sua própria caminhada.
Isso está acontecendo mais em uns países do que em outros. Considero, por exemplo, Equador e Bolívia países onde isso é muito flagrante. Depois, dentro da própria Igreja o fortalecimento das CEBs, os encontros de CEBs é um apelo, o pessoal vem, é um grupo minoritário, mas muito representativo e significativo em todo o Brasil.
Também as Pastorais Sociais como tem crescido, como tem se fortalecido agora em comunhão ou intercâmbio com as diversas organizações sociais populares. Depois os congressos, as organizações de lideranças de teologia, as jornadas mostram que a semente não foi destruída, a semente está produzindo frutos. É muito interessante, acho que se interliga no mundo inteiro com as diversas tentativas de romper essa estrutura monolítica da Igreja.
Adital- O que falta hoje para os leigos serem mais autônomos, tomarem as decisões? Esse Simpósio Teológico que estamos fazendo deveria ser multiplicado no sentido de dar aos leigos os meios pra se sentirem mais seguros nas suas posições e para tomarem mais iniciativas. O que falta para eles agirem?
Dom Tomás Balduíno- Há 20 anos ou mais que venho pensando e tentando passar adiante. Primeiro é que o futuro está na mão do laicado da Igreja, não da hierarquia. Bananeira que já deu cacho não presta mais. Tem sua função, mas a força da Igreja é o laicado. E o Concílio ascendeu um pouco timidamente sobre isso, mas o caminho para superar essas dependências, essas mil dependências da paróquia ou então do Bispo, uma linha de criar uma autonomia é a escola de teologia, a escola bíblica.
É verdade que nós temos pastorais autônomas, temos uma pastoral autônoma, que é a Comissão Pastoral da Terra, que eu considero uma estrutura leiga, tem Bispo na direção porque foi pedido pela CNBB, mas o que vale ali é a presença do laicado. E quando isso é formado, quando tem base teológica e sabe ver o futuro, isso não só serve de defesa para a pessoa ou grupo, mas serve também de caminhada, de serviço ao mundo, um serviço necessário que não é só a hierarquia ou os missionários que vão fazer, mas leigos até com mais eficácia, com fermento na massa.

Fonte: Adital