segunda-feira, 25 de março de 2013

Uma igreja pobre para os pobres


O texto abaixo foi publicado originalmente no blog E por falar em pastoral, do amigo Rogério de Oliveira. Faz uma excelente reflexão sobre a prioridade da Igreja pelos pobres.

Falávamos em outro artigo sobre a opção preferencial da Igreja pela juventude. Ao olharmos nos documentos da Igreja, no entanto, é anterior a ela a opção pelos pobres. Em tempos de teologia da prosperidade, consumismo, crises econômicas aqui e ali, falar novamente dos pobres parece meio fora da ordem.

Para a Pastoral da Juventude, a opção pelos pobres nunca esteve fora da pauta. Por ser opção da Igreja, ela deve se pautar em ações. E toda ação evangelizadora concreta se dá por meio das pastorais. No entanto, os pobres e as causas da pobreza estavam ficando mais matizados nos discursos eclesiais.

Eles nunca estiveram fora da prática de Jesus, fosse estando ao lado deles para mostrar-lhes sua própria dignidade e valor, fosse estando ao lado dos ricos para que estes se convertessem a causa da justiça, como no caso de Zaqueu.

Exatamente por isto que para a prática cristã, o contrário de pobreza não é riqueza, mas justiça. A miserabilidade nasce das relações injustas que a sociedade cria e ao fazer opção pelos pobres, a Igreja quer desvelar esta realidade.

Em 16 de março de 2013, o Papa Francisco teve uma audiência com os representantes da imprensa do mundo todo que cobriram desde a renúncia de Bento XVI até os resultados do conclave e primeiros dias do novo pontificado. No discurso proferido (que pode ser lido aqui), o Papa fez a afirmação que dá título a este texto “Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres”.

Li e reli muitas afirmações e interpretações deste discurso e desta frase em particular. Há quem pense que a Igreja iria desfazer-se de todos os bens que possui para distribuí-los todos aos pobres. Há quem julgue que isto é o que deveria ser feito. Outros acham que uma “Igreja pobre” não teria recursos para ajudar quem precisa de ajuda.

São afirmações colhidas fora do contexto e daquilo que é prática histórica das comunidades cristãs, em especial aqui no continente latino-americano. Quem acha que só “rico” pode ajudar o “pobre”, tem em sua mente que este último é objeto da caridade do primeiro. Não sou estúpido ao ponto de afirmar que a caridade destes pequenos atos não seja importante. Claro que é. Ela suprime uma necessidade urgente (fome, sede, frio, doença), mas maior caridade é atacar as causas destas necessidades.

Uma Igreja pobre para os pobres não é formada somente por pessoas desprovidas de bens materiais. Afirmar isto equivaleria a dizer que só um negro poderia se engajar na causa dos negros, só mulheres na luta das mulheres, só imigrantes valeriam na busca do direito dos imigrantes. Óbvio que a dor social é mais sentida por aqueles que sofrem na pele e na história seus efeitos. Mas não são portas fechadas para aqueles que querem se solidarizar e estar ao lado na busca por justiça.

Neste sentido que entra a opção pelos pobres abraçada pela PJ e por toda a Igreja. Não são pobres genéricos, espalhados aqui ou ali. É todo um grupo de pessoas de uma realidade concreta de exclusão. “É o grito de um povo que sofre e que reclama justiça, liberdade e respeito aos direitos fundamentais dos homens e dos povos”, como lembra o documento de Puebla.

Não se trata de pobres numa fria realidade estatística. São pessoas com rostos bem definidos: crianças subnutridas, jovens sem perspectivas, indígenas, camponeses sem terra, operários, desempregados, subempregados, idosos, ribeirinhos, dependentes de drogas, portadores de deficiências, entre tantos outros.

São estas pessoas aquelas que o Papa Francisco aponta na sua frase-desejo que intitula este texto. Através destas pessoas pode-se fazer a experiência do Reino de Deus. E, como diz o Pe. João Batista Libânio, este Reino exige de nós “esperança, práticas de caridade libertadoras, decisões urgentes e inadiáveis”. Ao mesmo tempo em que o pobre é amado de Deus e destinatário prioritário do Seu Reino, ele é também fruto da injustiça, do pecado social e da falta de fraternidade. É a experiência do Reinado de Deus. É o já e o ainda não. É o “Já”, na presença do Deus da Vida que caminha ao lado dos que sofrem e o “Ainda não”, porque eles também são sinal da ausência da fraternidade e da justiça.

Uma Igreja pobre para os pobres é presente pelo exemplo de Jesus que se fez pobre entre os pobres. Ou como nos ensina São Paulo que pede que tenhamos “os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo: Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,5-7). Que nossa ação pastoral seja de serviço, serviço pleno e em favor de quem mais precisa.

Para aprofundar a leitura popular da Bíblia


O texto abaixo foi publicado pelo amigo José Luiz Possato Jr. no grupo Leitura Popular da Bíblia, no Facebook.

Traz dicas muito boas para aqueles que querem fazer uma leitura bíblica de maneira popular e comunitária.
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“Olá, pessoas!!!

Estou lendo um livro bacana: “WEGNER, Uwe: Exegese do Novo Testamento – Manual de Metodologia, Ed. Sinodal – São Leopoldo, Ed. Paulus – São Paulo, 1998”.

Lá pela página 14 encontrei umas regrinhas bacanas para quem quer se aprofundar na Leitura Popular da Bíblia. Na verdade, são riscos que devem ser evitados para que a Palavra de Deus não seja lida e estudada de forma alienante.

Segundo o autor, são dicas retiradas do artigo “Como se faz Teologia Bíblica Hoje no Brasil”, escrito por Carlos Mesters e publicado no exemplar nº 1 da revista Estudos Bíblicos da Vozes. São elas (procurarei reproduzi-las na íntegra):

- Prisão da letra: Pressupõe uma concepção mecânica de inspiração e de inerrância, não levando a sério a encarnação da Palavra de Deus (exemplo: o fundamentalismo). A maior característica deste tipo de leitura é a falta de crítica. Superação: leitura crítica da realidade e dos textos bíblicos;

- Dependência do saber de outros e outras intérpretes: A dependência exagerada do saber alheio perpetua complexos de ignorância e inferioridade. Superação: ter consciência de que Deus dá o seu Espírito Santo a cada pessoa, independentemente de sua condição cultural ou social (At 2,17s), possibilitando uma maturidade em relação à expressão de fé;

- Dependência da ideologia dominante: Esta encontra-se veiculada, sobretudo, pelos modernos meios de comunicação, como os jornais, rádio e televisão. Superação: não pode haver leitura libertadora da Bíblia sem uma:

a) prévia libertação do cativeiro da nossa mente e do nosso pensar, atrelados àquilo que outras pessoas e grupos desejam que pensemos e creiamos (cf. Rm 12,1-2): o caminho da conversão passa necessariamente pela cabeça;

b) leitura a partir do lugar social das pessoas e grupos oprimidos e empobrecidos, já que os mesmos constituem as vítimas preferenciais da ideologia dominante;

De qualquer forma, sem libertação do cativeiro da nossa mente e sem uma reflexão sobre os textos a partir das pessoas e grupos inferiorizados, a leitura bíblica será sempre leitura ingênua e facilmente manipulável;

- Estudo sem fé e compromisso comunitário: Este tipo de leitura pode apresentar boas ideias, mas carece de um efetivo esforço pela transformação da realidade. Sua maior característica é o descompromisso comunitário e social. Superação: leitura militante, atenta às denúncias da Palavra de Deus, bem como aos seus apelos à conversão pessoal, eclesial e social;

- Estudo individualizado: Este tipo de estudo abre portas para o subjetivismo e, em decorrência, para toda sorte de “achismos”. Superação: leitura comunitária, que é o exercício de elaboração coletiva pela qual se completa a limitada percepção de cada qual;

- Estudo intelectualizado: Na exegese científica, a fé não costuma ser um elemento constitutivo do processo de interpretação, e sim sua condição prévia. Na leitura popular, ao contrário, a leitura da Palavra de Deus é sempre envolvida pela oração. Por isso, a superação de um tipo de leitura por demais intelectualizada é a leitura orante. Intui-se, dessa forma, que a descoberta do sentido não é fruto só da ciência, mas é também um dom de Deus através do Espírito. Dá-se lugar à ação do Espírito Santo na leitura e na interpretação da Bíblia.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Carta aos Hebreus: Roteiro para o 6º Encontro – 1ª Celebração


Jesus é o centro de nossa fé

Em alusão à Maria, irmã de Marta, que preferiu ouvir Jesus a ajudar sua irmã nos afazeres da casa (Lc 10, 38-42), o grupo do círculo bíblico da Comunidade Cristo Rei sempre diz que o tempo que passa no círculo é o melhor momento na vida de cada um eles. “Escolhemos a melhor parte e esta não nos será tirada”.

Neste roteiro, você poderá ver como o grupo celebrou o seu “momento Maria” e refletiu sobre o porquê de este ser o “melhor momento” de suas vidas e qual a relação isso tem com o estudo da Carta aos Hebreus e o Ano da Fé.

Acesse o roteiro da celebração (6º Encontro) e reflita você também sobre relação entre a preferência de Maria, a Carta aos Hebreus e o Ano da Fé.

Acesse também os demais roteiros para os cinco primeiros encontros.


quarta-feira, 20 de março de 2013

Papa Francisco: "O verdadeiro poder é serviço"


“Queridos irmãos e irmãs!
Agradeço ao Senhor por poder celebrar esta Santa Missa de início do ministério petrino na solenidade de São José, esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja universal: é uma coincidência densa de significado e é também o onomástico do meu venerado Predecessor: acompanhamo-lo com a oração, cheia de estima e gratidão.
Saúdo, com afeto, os Irmãos Cardeais e Bispos, os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e as religiosas e todos os fiéis leigos. Agradeço, pela sua presença, aos Representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, bem como aos representantes da comunidade judaica e de outras comunidades religiosas. Dirijo a minha cordial saudação aos Chefes de Estado e de Governo, às Delegações oficiais de tantos países do mundo e ao Corpo Diplomático.
Ouvimos ler, no Evangelho, que “José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu sua esposa” (Mt 1, 24). Nestas palavras, encerra-se já a missão que Deus confia a José: ser guardião. Guardião de quem? De Maria e de Jesus, mas é uma guarda que depois se alarga à Igreja, como sublinhou o Beato João Paulo II: “São José, assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo” (Exort. ap. Redemptoris Custos, 1). Como realiza José esta guarda? Com discrição, com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender. Desde o casamento com Maria até ao episódio de Jesus, aos doze anos, no templo de Jerusalém, acompanha com solicitude e amor cada momento. Permanece ao lado de Maria, sua esposa, tanto nos momentos serenos como nos momentos difíceis da vida, na ida a Belém para o recenseamento e nas horas ansiosas e felizes do parto; no momento dramático da fuga para o Egito e na busca preocupada do filho no templo; e depois na vida quotidiana da casa de Nazaré, na carpintaria onde ensinou o ofício a Jesus.
Como vive José a sua vocação de guardião de Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a Deus, aberto aos seus sinais, disponível mais ao projeto d’Ele que ao seu. E isto mesmo é o que Deus pede a David, como ouvimos na primeira Leitura: Deus não deseja uma casa construída pelo homem, mas quer a fidelidade à sua Palavra, ao seu desígnio; e é o próprio Deus que constrói a casa, mas de pedras vivas marcadas pelo seu Espírito. E José é “guardião”, porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, está atento àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais sensatas. Nele, queridos amigos, vemos como se responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criação!
Entretanto a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Genesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus!
E quando o homem falha nesta responsabilidade, quando não cuidamos da criação e dos irmãos, então encontra lugar a destruição e o coração fica ressequido. Infelizmente, em cada época da história, existem “Herodes” que tramam desígnios de morte, destroem e deturpam o rosto do homem e da mulher.
Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos “guardiões” da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para “guardar”, devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura. A propósito, deixai-me acrescentar mais uma observação: cuidar, guardar requer bondade, requer ser praticado com ternura. Nos Evangelhos, São José aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador, mas, no seu íntimo, sobressai uma grande ternura, que não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura!
Hoje, juntamente com a festa de São José, celebramos o início do ministério do novo Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que inclui também um poder. É certo que Jesus Cristo deu um poder a Pedro, mas de que poder se trata? À tríplice pergunta de Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se o tríplice convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão (cf. Mt 25, 31-46). Apenas aqueles que servem com amor são capazes de proteger.
Na segunda Leitura, São Paulo fala de Abraão, que acreditou “com uma esperança, para além do que se podia esperar” (Rm 4, 18). Com uma esperança, para além do que se podia esperar! Também hoje, perante tantos pedaços de céu cinzento, há necessidade de ver a luz da esperança e de darmos nós mesmos esperança. Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança! E, para o crente, para nós cristãos, como Abraão, como São José, a esperança que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi aberto em Cristo, está fundada sobre a rocha que é Deus.
Guardar Jesus com Maria, guardar a criação inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais pobre, guardarmo-nos a nós mesmos: eis um serviço que o Bispo de Roma está chamado a cumprir, mas para o qual todos nós estamos chamados, fazendo resplandecer a estrela da esperança: Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu! Peço a intercessão da Virgem Maria, de São José, de São Pedro e São Paulo, de São Francisco, para que o Espírito Santo acompanhe o meu ministério, e, a todos vós, digo: rezai por mim! Amem.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Carta aos Hebreus: Roteiro para o 5º encontro de reflexão


Vamos para águas mais profundas?


Estamos no Ano da Fé e o objetivo do círculo bíblico sobre a Carta aos Hebreus é, justamente refletir sobre a nossa fé.

No roteiro desta reunião será possível ver que o texto a ser estudado fala, em diversos trechos, sobre a fé, sobre a esperança que devemos ter em Deus e no Projeto que Ele nos preparou. Vai mostrar que os cristãos devem deixar tudo de lado e se agarrarem firmemente à fé de que, no momento oportuno, Deus os concederá “copiosas bênçãos”.

Mas, é preciso ir além da superficialidade. É preciso discutir coisas de adultos, como adultos. É preciso assumir com firmeza e total compromisso a construção do Reino de Deus.

A intenção deste roteiro é iniciar a preparação do grupo para o início da deglutição do “alimento sólido”, que possibilitará ao grupo “penetrar até o outro lado da cortina do santuário”. Mas, o grupo está preparado?

Abra o roteiro e faça você também a reflexão. Você está preparado?



Mulher e Juventude: Saindo do Anonimato


A reflexão abaixo foi postada originalmente no blog O‘P’ da letra, do amigo José Luiz Possato Jr. Em tempos de conclave, Fraternidade e Juventude, Jornada Mundial da Juventude e comemorações pelos 40 anos da PJ, é uma excelente reflexão a ser feita pela juventude, pela Igreja e pela sociedade como um todo. Por isso, reproduzo-a aqui.


Ao fazer a reflexão é possível ver que a mulher cananeia não se intimidou com a repressão e foi à luta na busca pelo atendimento de suas necessidades. Veremos também que Jesus “deu o braço a torcer” e atendeu a reivindicação dela.

E nós, conseguimos superar as barreiras que mantém nossas necessidades no anonimato? E quando somos nós que temos que “conceder os desejos”, atender as reivindicações, “damos o braço a torcer”? E a Igreja, dá?

 Roteiro Bíblia e Juventudes: Saindo do Anonimato

O roteiro a seguir foi utilizado numa oficina da PJ-ICAR, mas poderá ser utilizado por grupos de jovens de todas as denominações.


Seminário de abertura dos 40 anos da PJ
São Leopoldo/RS – 09 e 10 de março de 2013

OFICINA DE BÍBLIA E JUVENTUDES
(ASSESSOR: José Luiz Possato Jr.)

PERGUNTA: Como se faz uma Leitura Popular e Juvenil da Bíblia?

Exercício => Ler Ex 18,1-12 - 1Jetro, sacerdote de Madiã e sogro de Moisés, ficou sabendo de tudo o que Javé havia feito com Moisés e com seu povo Israel: como Javé havia retirado Israel do Egito. 2Quando Moisés mandou sua mulher Séfora de volta, Jetro, sogro de Moisés, recebeu-a 3junto com os dois filhos. Um deles se chamava Gérson, porque Moisés dissera: “Sou imigrante em terra estrangeira”. 4O outro se chamava Eliezer, porque: “o Deus de meu pai é minha ajuda e libertou da espada do Faraó”. 5Acompanhado da mulher e filhos de Moisés, Jetro foi encontrar-se com ele no deserto onde estava acampado, junto à montanha de Deus. 6Informaram a Moisés: “Sua mulher e seus dois filhos estão aí juntamente com seu sogro Jetro”. 7Moisés saiu para receber o sogro, inclinou-se diante dele e o abraçou. Os dois se cumprimentaram e entraram na tenda. 8Moisés contou ao sogro tudo o que Javé tinha feito ao Faraó e aos egípcios, por causa dos israelitas. Contou também as dificuldades que tinham enfrentado pelo caminho e das quais Javé os havia libertado. 9Jetro ficou alegre por todos os benefícios que Javé tinha feito a Israel, libertando-o do poder egípcio. 10E disse: “Seja bendito Javé, que libertou vocês do poder dos egípcios e do Faraó. Ele arrancou este povo do poder do Egito. 11Agora eu sei que Javé é o maior de todos os deuses, pois quando eles tratavam vocês com arrogância, Javé libertou o povo do domínio egípcio”. 12Depois, Jetro, sogro de Moisés, ofereceu a Deus um holocausto e sacrifícios. Aarão e todos os anciãos de Israel foram e fizeram a refeição com ele na presença de Deus. (versão Ed. Pastoral online)

Questões:
1) Que personagens aparecem no texto?
2) Quem são os protagonistas? Algum/a deles é jovem?
3) No v.6, quem é anunciado primeiro a Moisés?
4) Quem entra com Moisés na tenda? O que fazem lá dentro?
5) O que acontece com Séfora e os filhos no fim da história?
6) Em que momento/s a juventude é deixada do lado de fora da tenda, isto é, fica excluída do núcleo de tomada de decisões?
7) Quando Jesus é questionado por uma estrangeira (Mt 15,21-28), a postura decidida da mulher faz com que ela seja notada, isto é, saia da marginalidade. Que outros trechos podem ser citados nesse sentido?
8) Como esses textos nos ajudam no processo de empoderamento juvenil?

Mateus 15,21-28 - 21Jesus saiu daí e foi para a região de Tiro e Sidônia. 22Nisso, uma mulher cananeia, que morava nessa região, gritou para Jesus: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim. Minha filha está sendo cruelmente atormentada por um demônio.” 23Mas Jesus nem lhe deu resposta. Então os discípulos se aproximaram e pediram: “Manda embora essa mulher porque ela vem gritando atrás de nós.” 24Jesus respondeu: “Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel.” 25Mas a mulher, aproximando-se, ajoelhou-se diante de Jesus e começou a implorar: “Senhor, ajuda-me.” 26Jesus lhe disse: “Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos.” 27A mulher disse: “Sim, senhor, é verdade; mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.” 28Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, é grande a sua fé! Seja feito como você quer.” E, desde esse momento, a filha dela ficou curada.

Ajudando a reflexão:
A reunião de um grupo de homens numa tenda, com o intuito de fazer memória da intervenção divina e honrá-la por meio de rituais e sacrifícios, indica-nos com toda certeza que este é um texto de tradição sacerdotal. Portanto, trata-se de um escrito do pós-Exílio, onde o poder interno, tanto político quanto religioso, está centrado no Templo de Jerusalém. O domínio econômico e militar é exercido por um imperador estrangeiro, não necessariamente o Faraó egípcio, mas certamente um opressor indesejado. Nesse momento crítico, a memória do Êxodo ajuda a animar a caminhada.

Porém, na luta por libertação, de alguma forma, há sempre o risco de se reproduzir os mecanismos da opressão. Assim, as mulheres e crianças (e podemos incluir aí os jovens), mesmo que insistam em se fazer presentes (depois de Moisés ter despachado Séfora e os filhos para a casa do sogro, ela bate novamente à “porta” de sua tenda), são impedidos de participar das decisões.

Essa dominação histórica atravessa os séculos até chegar aos tempos de Jesus e encontrar uma mulher cananeia que questiona a estrutura e, com isso, muda a crença e a trajetória do próprio Cristo. O texto de Mateus, escrito para judeus da diáspora provavelmente, mostra o momento exato em que o Evangelho se abre aos não-judeus, usando nada mais simbólico do que uma mulher estrangeira, ou seja, uma personagem duplamente excluída pela sociedade judaica da época.

Chama atenção a postura dos discípulos: “Manda embora essa mulher porque ela vem gritando atrás de nós” (v.23b). Lendo as entrelinhas, é possível entender o seguinte: “Manda essa mulher embora porque a gritaria é grande e já desperta os olhares dos demais. Mulher, criança e jovem têm que saber se pôr no seu devido lugar. Que palhaçada é essa de ficar fazendo reivindicações? Já pensou se a moda pega?” São tão próximos de Jesus que sofrem a tentação de querê-lo só pra si. Não entendem que a Boa nova é para todos os povos.

O próprio Jesus entende que a preferência é dos israelitas. Compara a mulher a um cachorrinho, digno apenas do que “cai da mesa”. Porém, a reação dela o desarma completamente. Em vez de protestar, ela procura demonstrar que nem o direito às migalhas está sendo respeitado. Derrotado, não resta outra coisa além de atender ao pedido.

É interessante, ainda, notar o movimento de aproximação da mulher. Ela começa a narrativa gritando. Ou seja, está tão longe (ou abafada?) que não é fácil escutá-la. Porém, a insistência é tanta que começa a incomodar. Já não sendo possível ignorá-la, nada mais impede que ela se coloque de joelhos aos pés de Jesus. O desfecho é lindo, digno de um retrato. Mas um quadro imóvel não faria jus ao que realmente está em jogo nesta cena: quando os espaços não são dados; devem ser conquistados.

Hoje, olhando a realidade de nossas jovens e nossos jovens, urge perguntar: Quais são os seus espaços? A quais elas e eles têm direito? Estão sendo respeitados? O jovem participa das decisões políticas do nosso país? O que é preciso fazer para sair da invisibilidade? Buscar respostas para estas questões – e outras a elas relacionadas – é fundamental para definirmos o norte da nossa caminhada.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Carta aos Hebreus: Roteiro para o 4º encontro de reflexão


Somos santos e pecadores, mas Jesus é misericordioso

Neste quarto encontro de reflexão sobre a Carta aos Hebreus, o círculo bíblico da Comunidade Cristo Rei traz a reflexão sobre a compaixão que Jesus tem para conosco e sobre o sacrifício que Ele sofreu pelos nossos pecados, pelos pecados da sociedade de sua época, que permanecem até os dias de hoje.

Numa reflexão sobre o Pai-Nosso, vai nos lembrar que Jesus disse: “Sejam misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. Não julguem e não serão julgados; não condenem e não serão condenados; perdoem e serão perdoados” (Lc 6, 36-37 e que com a mesma medida que medirmos os outros, também seremos medidos.

Na oração, dizemos: “Perdoe os nossos pecados, assim como perdoamos a quem nos tenha ofendido”. Nós, verdadeiramente, perdoamos a quem nos ofende? Quanto teremos que sofrer no dia do nosso Juízo Final para sermos perdoados?

Abra o roteiro deste quarto encontro de reflexão sobre a Carta aos Hebreus e reflita você também. Mas, a reflexão conjunta é mais produtiva. Ela pode fazer com que você veja os mesmos pontos vistos individualmente com outro olhar, de outra maneira. Se possível, junte seu grupo e faça a reflexão. Depois, nos conte sua experiência.