terça-feira, 25 de agosto de 2015

Reflexão para liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum

Na primeira leitura (Dt 4,1-2.6-8) deste domingo, Moisés apresenta a Lei ao Povo de Deus e ressalta: “Nada acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo”. O Salmo (Sl 14,2-3ab.3cd-4ab.5) nos indica quem habitará a “Casa do Senhor”. Na segunda leitura (Tg 1,17-18.21b-22.27), Thiago nos ensina que “todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto; descem do Pai das luzes”. Por fim, no Evangelho (7,1-8.14-15.21-23), ao repreender os fariseus e mestres da Lei, Jesus nos chama a atenção para o que é mais importante. “De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos'. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens'”.

O texto abaixo, do Pe. Adroaldo nos ajuda a refletir sobre estas leituras.

Os riscos de uma religião desumanizadora

Padre Adroaldo

“De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos”

Era uma vez um mosteiro no qual se respeitava escrupulosamente o silêncio. Mas cada dia, justamente às seis horas da tarde, quando os monges iniciavam a oração das Vésperas, aparecia um gato pela porta da igreja, miando fortemente.

Diante da insistência e intensidade dos miados, o abade tomou uma decisão: pediu a um irmão que, das seis às sete da tarde, amarrasse o gato em uma pilastra que havia na entrada do mosteiro, longe da capela onde eles rezavam. E assim fazia o irmão, todas as tardes.

O tempo passou. O abade faleceu e veio substituir-lhe um monge de outro convento distante, que logo percebeu o que cada tarde se fazia com o gato. E pediu para continuar a repetir o mesmo rito.

Meses depois faleceu o gato. Imediatamente, o novo abade chamou o irmão e lhe disse: “Compre outro gato o quanto antes para amarrá-lo, cada tarde, das seis às sete horas, na coluna da entrada da igreja”.

Este antigo conto mostra uma tendência bastante habitual no comportamento humano. Começamos fazendo algo porque nos parece útil, mas logo absolutizamos essa ação, convertendo-a em um rito ao qual atribuímos valor por si mesmo, à margem de sua utilidade. Quando isso acontece, dá a impressão que o único motivo que nos leva a manter uma ação ou um comportamento é que “sempre se fez assim”.

Se, além disso, a esse comportamento lhe é atribuído um caráter “religioso”, acrescenta-se outra razão poderosa para perpetuá-lo. E se, finalmente, a “autoridade religiosa” atribui a si o poder de controlá-lo e de vigiar seu cumprimento, temos todos os ingredientes tanto para o imobilismo como para situar a ação prescrita acima inclusive do valor e do bem da pessoa.

Tudo isto está presente na cena evangélica de hoje. A atuação de Jesus é perigosa, pois Ele ensina a viver com aquela liberdade surpreendente. Convém corrigi-la.

Os fariseus e doutores da lei vigiavam rigorosamente o cumprimento das normas rituais: lavar as mãos antes de comer, a maneira certa de lavar os copos, jarras e vasilhas de cobre...

Provavelmente, tais normas surgiram como uma medida de prevenção higiênica. O erro acontece quando se absolutiza e se acaba declarando “impuras” (religiosamente) às pessoas que não as cumprem. Desse modo, o que poderia ser uma prescrição saudável terminou se convertendo em uma arma de poder e em um pretexto gravemente discriminatório.

Pretextos desse tipo foram utilizados (e se utilizam) com frequência, na sociedade e na Igreja, para estigmatizar determinadas pessoas ou grupos. E a autoridade, religiosa ou civil, se converte em “polícia das consciências”, acusando, condenando ou inclusive eliminando aqueles que se afastam da norma prescrita. “Quem sou eu para julgá-los?” (Papa Francisco).

Será que Deus complica tanto nossa vida com o peso das normas, proibições, culpas...?

Mais uma vez, frente às armadilhas da religião, a atitude de Jesus é claríssima. Custa-nos entender como há pessoas que professam ser suas seguidoras e continuam absolutizando normas, ritos, crenças..., acima do bem das pessoas, às quais não duvidam em amaldiçoar e desqualificar do modo mais veemente.

No entanto, o culto que agrada a Deus nasce do coração, da adesão interior, desse nosso centro íntimo de onde nascem nossas decisões e projetos.

Em toda religião há tradições que são “humanas”: normas, costumes, ritos, devoções... que nasceram para ajudar a viver a experiência religiosa em uma determinada cultura. Podem fazer bem; mas podem causar muito dano quando nos dispersam e nos afastam da Palavra de Deus. Elas nunca devem ter a primazia.

Não podemos esquecer nunca do que é essencial.

Neste sentido, Jesus foi um “transgressor” porque sua missão estava centrada em “destravar” a vida das pessoas pelo peso das tradições e ritos religiosos. Suas palavras, tomadas de Isaías, apontam diretamente para o coração: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos”.

Tais palavras teriam que se converter, para o seguidor de Jesus, em um questionamento sempre atual. Onde creio encontrar Deus? Nas normas, nos ritos, nas crenças... ou no coração e na vida? Sem dúvida, o comportamento pessoal será radicalmente diferente se identificamos a Deus com nossas crenças e ritos ou se o experimentamos no mais profundo de nosso ser e no serviço em favor da vida. No primeiro caso, haverá fanatismo-legalismo-moralismo; no segundo, respeito-amor-compaixão-serviço.

O decisivo é o “lugar” onde vivemos a experiência de encontro com Deus. É verdade que o próprio Jesus nos advertiu que Ele não veio a este mundo para “suprimir” a Lei e os Profetas, ou para acabar com a “religião”, mas para transformar qualitativamente, para “levar à plenitude” a antiga religião (Mt 5,17).

Em outras palavras, o que Jesus deixou claro, com sua forma de viver e com seus ensinamentos, é que o centro da religião não está nem no templo, nem nos rituais, nem no sagrado, nem na submissão às normas religiosas, nem nos dogmas e suas teologias, mas que está na práxis, numa ética, num projeto de vida, numa forma de viver, que se centra e se concentra na bondade para com todos de maneira igual, no amor sem limitações nem condicionamentos, no serviço gratuito e generoso. Isso se traduz e se realiza no respeito à vida humana, na defesa da vida, da dignidade e dos direitos de todos.

Isto quer dizer que Jesus deslocou a religião, tirando-a do templo, dos sacerdotes e seus hierarcas, separando-a dos ritos, antepondo-a ao sagrado. E a colocou no centro da vida. Mais ainda, a ampliou e a estendeu à vida inteira, não a reduzindo a determinados momentos da vida, a espaços separados, a gestos privilegiados, a objetos e personagens com quem é preciso manter uma relação de abaixamento e submissão. É assim como Jesus revela e expressa a “humanização de Deus”.

Seu modo livre de ser e viver nos revela “a humanidade de Deus”.

Texto bíblico: Mc 7,1-8.14-15.21-23

Na oração: sua vivência cristã está mais centrada no cumprimento de normas, ritos, leis... ou no serviço e cuidado para com os outros? Seu “culto” a Deus é expressão de um compromisso ou um rito vazio, assumido por imposição e medo?

Sua experiência de encontro com Deus só se dá nos momentos de celebração ou no ritmo da vida?

A sedução de uma Igreja autorreferencial

Por Jaime Carlos Patias

Uma Igreja autorreferencial é aquela que se coloca no centro de si mesma. Essa parece ser a prática de algumas pastorais, grupos e movimentos. Promovem encontros, eventos, homenagens, shows e até missas para congregar as pessoas dos mesmos círculos de interesses e passar momentos agradáveis que beiram ao narcisismo. Isso é sedutor.

Alguns meios de comunicação católicos também caem nessa emboscada. Como forma de incentivo para alavancar audiência, criam prêmios, indicam os merecedores da homenagem, selecionam os vencedores para, em seguida, produzirem a cerimônia de entrega dos troféus e se congratularem com palmas, fotos e louvores pelo feito. Haja vaidade!!!

Toda essa bajulação contribui em que para a evangelização ou para tornar mais conhecido e amado o projeto do Reino de Deus revelado por Jesus? Quem de fato ganha com tanto incenso?

Na vida de Jesus fica claro que, quando queriam aclamá-lo pelos sinais que realizava, ele sai de mansinho. Ao contrário disso, a sociedade do espetáculo e das estrelas precisa de reconhecimento, de prêmios, de aparecer e vender mais. Tudo isso alimenta o exibicionismo e a ostentação que pulveriza as redes sociais de fotos, muitas vezes, o único conteúdo. Mas essa não é a prática de Jesus, nem faz parte das orientações encontradas no Evangelho. Portanto, as estrelas católicas que se cuidem para não reforçar a imagem de uma Igreja que só pensa em si mesma, sem se importar com o anúncio e o testemunho de Cristo morto e ressuscitado.

O papa Francisco ainda quando era cardeal, em uma intervenção nas Congregações Gerais antes do Conclave (fevereiro 2013), assim se expressou:

“A Igreja, quando é autorreferencial, sem se dar conta, crê que tem luz própria; deixa de ser o mysterium lunae e dá lugar a esse mal tão grave que é a mundanidade espiritual” (segundo De Lubac, o pior mal que pode acontecer à Igreja). Há duas imagens de Igreja: a Igreja evangelizadora que sai de si ou a Igreja mundana que vive em si, de si, para si”, com títulos, competições para dar-se glória uns aos outros.

Esta reflexão é muito apropriada para iluminar nossos projetos e ações na Igreja.

Jaime Carlos Patias, imc, mestre em comunicação e secretário nacional da Pontifícia União Missionária.


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Comunidade Cristo Rei reflete sobre CF2015

O Círculo Bíblico da Comunidade Eclesial Cristo Rei inicia nesta quinta-feira (26/02) os encontros de reflexão sobre a Campanha da Fraternidade 2015. Serão cinco encontros, sempre às quintas-feiras, das 20h às 21h30.

O grupo utilizará o material oficial da CNBB como base para as reflexões.

O Círculo Bíblico é aberto e sempre convida novos participantes para se integrar aos seus encontros de estudo, partilha, reflexão e celebração.



A Comunidade Cristo Rei está localizada na rua Major Freire, 792, próximo à estação São Judas do metrô (paralela à av. Fagundes Filho).

HISTÓRICO
O Círculo Bíblico da Comunidade Cristo Rei se reúne já faz sete anos. Em 2014 o grupo desenvolveu outras atividades pastorais e sociais e voltará a se reunir para as reflexões neste ano.


As reflexões se dão a partir da leitura orante da Bíblia e sempre buscam levar o grupo a realizar um ato concreto para colocar em prática os conteúdos apreendidos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Papa Francisco escreve à Pastoral da Juventude



Mestre onde moras?
Vinde e vede! (Cf. Jo 1,38-39)
Estimada Aline e meu querido Alberto, que a graça do Jovem de Nazaré permaneça sempre com vocês, e nessa saudação quero abraçar a todos os jovens e adultos que estão participando do XI Encontro Nacional da Pastoral da Juventude nas benditas terras amazônicas.
É com grande alegria que me dirijo a vocês por meio desta singela mensagem, obrigado por deixar-me participar deste grande e bendito encontro.
Gostaria de começar dizendo que fiquei muito feliz ao rezar e meditar a iluminação bíblica e o lema do encontro.
Essa pergunta habita no coração humano. A respeito de tudo e em todas as circunstâncias. Atesta-o a experiência pessoal, documenta-o a história, confirma-o o relato bíblico. O rosto da pergunta surge no alvor das origens com aquele célebre: “Adão, onde estás? Que fizeste do teu Irmão?”; no templo de Silo no diálogo do jovem Samuel com o sacerdote Helí, nas proximidades do rio Jordão com dois discípulos de João a Jesus de Nazaré: “Mestre, onde moras”? Jo 1, 35-42.
Também, hoje, a pergunta bate “à porta” da nossa consciência: Que queres da vida? Que sentido dás ao tempo? Como geres o instante no todo na tua história pessoal? Tens presente o teu futuro definitivo?
E o teu contributo para o bem de todos? Cada um de nós saberá continuar a lista sem dificuldade.
Toda a pergunta tem resposta. “Vinde e vede”, a resposta de Jesus fica como modelo e pedagogia para todos os peregrinos da verdade. Eles vão e ficam na sua companhia. Deixam-se “moldar” pelo modo de ser do Mestre. Mais tarde serão enviados em missão. E, como outrora, também agora, somos convidados a conviver com Ele, a partilhar a sua vida, a acolher o seu olhar penetrante, a deixar-nos atrair e a “agarrar” pela experiência gratificante que dá resposta aos anseios mais profundos do coração humano.
Os discípulos, na companhia do Mestre, aprenderam os modos de realizar a missão: curar doentes e alimentar famintos, partilhar e viver na alegria sincera, deixar-se conduzir pelo amor universal e generoso, que Deus nos tem, acolher os mais débeis e afastados das fontes da vida. E partem pelos “quatro cantos da Terra” a anunciar a vocação sublime de todo o ser humano, a apreciar e a cuidar a dignidade do seu corpo (toda a sua pessoa), a construir relações na base da regra de ouro “tudo o que queres para ti, fá-lo aos outros”, a reconhecer que só a civilização do amor manifesta, o melhor possível, a convivência sustentada em sociedade e redimensionada na cultura, a vocação de toda a humanidade.
Essa mesma vocação que nos convida a partilhar “A vida, o pão e a utopia”. De que serviria dizer que somos seguidores de Cristo se somos indiferentes às dores dos nossos irmãos? “Mostra-me tua fé sem obras que pelas minhas obras te mostrarei a minha fé” lembra-nos o apostolo Thiago.
Meus queridos e minhas queridas jovens, tenho muita esperança em vocês que dão testemunho com as suas vidas desse Cristo libertador. Esse Cristo que “olhou ao jovem com misericórdia e o amou”, a Igreja também ama vocês e por isso os peço que não se deixem abater pelas coisas que possam chegar a ouvir da juventude, em todo tempo histórico se falou pejorativamente dos jovens, mas também em todo tempo foi essa mesma juventude que dava testemunho de compromisso, fidelidade e alegria.
Nunca percam a esperança e a utopia, vocês são os profetas da esperança, são o presente da sociedade e da nossa amada Igreja e por sobre todo são os que podem construir uma nova Civilização do amor.
Joguem a vida por grandes ideais. Apostem em grandes ideais, em coisas grandes; não fomos escolhidos pelo Senhor para coisinhas pequenas, mas para coisas grandes!
Que o bom Deus abençoe sempre seus passos e seus sonhos e que a Nossa Senhora Aparecida os cubra sempre com o seu manto sagrado.
Com minha benção apostólica.
+ Francisco


Vaticano, 21 de Janeiro – Dia de Santa Inês – de 2015.