Formiguinhas de Jesus
Paulo Flores*
A liturgia deste domingo é fantástica. O Evangelho (Jo 13,
31-33a.34-35) traz a síntese dos 10 mandamentos feita por Jesus: “Amai-vos uns
aos outros, como eu vos amei”. (Jo 13, 34).
Com um Evangelho de tamanha importância, de enorme significado,
muitos tendem a reduzir a liturgia de hoje a esta leitura.
Ora, se as demais leituras não fossem importantes, elas não
fariam parte da liturgia. As demais leituras não estão aí apenas “para cumprir
tabela”.
É uma pena que até muitos pastores reduzam a liturgia de
hoje ao Evangelho ou, simplesmente, não consigam (ou não queiram) fazer a
ligação entre uma leitura e outra e ao tema central da liturgia, que é o amor
que todos os cristãos devem transparecer com todos os seres, espalhando pelo
mundo o Amor de Deus, o Amor que Ele tem para conosco.
Na primeira leitura (At 14, 21b-27), Paulo e Barnabé passam
de cidade em cidade designando presbíteros para cada comunidade. Levando o
Amor, transparecendo o Amor, eles dão responsabilidade aos pagãos, aos leigos
para que eles desenvolvam as comunidades, transparecendo o Amor de Deus naquelas
localidades.
Quando retornaram para o lugar de onde tinham partido,
relataram com alegria que Deus “havia aberto a porta da fé para os pagãos”.
Neste ponto abro um primeiro hiato para uma primeira
reflexão: Nossos dirigentes religiosos andam de “cidade” em “cidade” transparecendo
o Amor? Criam novas comunidades? Estabelecem lideranças e as empoderam?
E, já entrando na segunda leitura (Ap 21,1-5a), que nos
lembra que este mundo é a morada de Deus; que Jesus esteve conosco aqui nesta
terra e nos fez seu povo, nos fez “Povo de Deus”. Esta leitura profetiza: “Eis
que faço nova todas as coisas”, “a Morte não existirá mais, não haverá mais
luto, nem choro, nem dor”.
Nós, cristãos, Povo de Deus, que tanto desejamos que nossos
líderes religiosos nos empoderem, nós assumimos responsabilidades pelas/nas comunidades?
Estaríamos dispostos a, em qualquer lugar que estejamos, transparecer o Amor
para qualquer pessoa, independentemente de seu credo, sua cor, sua ideologia,
de sua classe social...? Estaríamos dispostos a desenvolver uma nova sociedade,
novas comunidades que transparecem o Amor? Estaríamos dispostos a, como Cristo
nos pediu, “fazer novas todas as coisas”?
Em dias de tanta intolerância, como os que vivemos em nosso
país e em várias partes do mundo, esta é uma importante reflexão.
Por fim (e não menos importante), temos o Salmo (Sl
144/145). Infelizmente, em muitas comunidades, grupos de canto nada litúrgicos trocam
o salmo por outro “mais atraente”. Às vezes, sem saber, acabam por corromper a
liturgia. Mas, vejam o significado do salmo de hoje, com o qual sintetizo esta
reflexão.
O Salmo 144(145) nos lembra que todos nós (Povo de Deus),
sejamos leigos, ministros ordenados, religiosos(as) e até mesmo “pagãos”,
devemos bendizer o nome de Deus para sempre. O Salmo nos lembra que “o Senhor é
muito bom para com todos, sua
ternura abraça toda criatura”. Lembra-nos que todos nós, empoderados pelo
Espírito Santo (mesmo que não pelos dirigentes religiosos – Jesus também não o
foi) temos que proclamar o poder (Amor) de Deus e espalhar os prodígios Dele.
Todos devemos ser “formiguinhas do Amor” e carregá-Lo em nossa caminhada
cotidiana. Em todos os lugares onde estivermos.
* Jornalista; leigo; católico; casado; pai.
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