Fraternidade e Educação
“Fala
com sabedoria, ensina com amor”
(Cf.
Pr 31,26)
Educar é um ato eminentemente humano. Somos renovados
quando aprendemos mais a respeito da vida e seu sentido, quando nos ensinam
novos conhecimentos e quando, percebemos que em nós existe a profunda sede de
aprender e ensinar.
Educar é também uma ação divina. A Bíblia nos mostra a história de um Deus que educa seu povo, caminhando com ele, compreendendo suas fragilidades, respeitando suas etapas e alertando diante dos erros. Quando contemplamos as ações e palavras de Jesus, encontramos um caminhar educativo. Sua presença atenciosa junto às pessoas, a relação entre os milagres e a conversão, o uso de exemplos recolhidos do cotidiano, tudo, enfim, nos apresenta Jesus como o grande educador.
É, pois, com essa certeza que a Campanha da Fraternidade
de 2022 nos convida a refletir sobre a indispensável relação entre fraternidade e educação. Já tendo, por
duas vezes, se debruçado sobre essa relação (1982 e 1998), a realidade de
nossos dias fez com que o tema educação recebesse destaque, dentre os vários
sugeridos, e fosse escolhido para mais uma Campanha da Fraternidade.
De fato, o mundo e nele o Brasil estão diante de um desafio:
redescobrir caminhos para uma reconstrução que não é parcial, mas global; que
não atinge somente alguns aspectos, mas que deve chegar às raízes do modo como
pessoas e povos compreendem e organizam a totalidade da vida. O mundo de nosso
tempo precisa encontrar caminhos para se reconstruir, ouvindo os clamores dos
vulneráveis em uma casa comum cada vez mais vulnerabilizada. Por isso, pergunta-nos
o Papa Francisco: "O que acontece quando não há a fraternidade
conscientemente cultivada, quando não há uma vontade política de fraternidade,
traduzida em uma educação para a fraternidade, o diálogo, a descoberta da reciprocidade
e o enriquecimento mútuo como valores?"
Trata-se, portanto, de uma Campanha da Fraternidade em
forte linha de continuidade com os temas que nos vêm sendo propostos pelo menos
desde 2018, quando éramos convidados a encontrar caminhos para a superação da
violência. Esses caminhos passam por políticas públicas (CF 2019), fundados na
ética do cuidado (CF 2020), em profunda atitude de diálogo (CFE 2021). Nada
disso poderá, entretanto, ocorrer se não se considerar a importância da educação:
educarmo-nos para o cuidado dialogal, nas relações interpessoais, e para o
compromisso socioambiental; educarmo-nos para a redescoberta das motivações
mais profundas ao próprio ato de educar.
Essa é a razão pela qual, em 2022, mais do que abordar um
ou outro aspecto específico da problemática educacional, a Campanha da
Fraternidade nos convoca a refletir sobre os fundamentos do ato de educar. Ao
longo da caminhada quaresmal, em que a conversão se faz meta primeira, recebemos
o convite para buscar os motivos de nossas escolhas em todas as ações e, por
certo, naquelas que dizem respeito mais diretamente ao mundo da educação.
Essa opção não implica o distanciamento das questões mais
concretas e urgentes no campo educacional. Há, de fato, inúmeros passos a serem
dados, escolhas a serem feitas, com ratificação ou ajustamentos de rumo. Cada
uma dessas concretizações, porém, exige o discernimento dos motivos pelos quais
são realizadas, fazendo, assim, emergir uma Campanha da Fraternidade que nos
leva a alargar o horizonte de nossa compreensão a respeito da educação, entendida
não apenas como ato escolar, como transmissão de conteúdos ou preparação
técnica para o mundo do trabalho. Estes, sem dúvida, são aspectos importantes,
porém não os únicos. A Campanha da Fraternidade nos adverte que mais importante
e urgente é a pergunta pelos motivos, pela abrangência e pelas metas de
qualquer processo educativo.
No texto bíblico referência para a CF 2022, Jesus Cristo,
o grande educador, está no templo. A ele foram levadas algumas mazelas do mundo:
uma mulher flagrada em adultério, um adúltero que se esconde, ardilosos
utilizadores da lei e pedras como instrumentos de morte. Jesus não se encontra em
uma sala de aula ou em atitude que demonstre ensino convencional. No entanto,
mostra que educar é contribuir para a superação do pecado, preservando a vida,
atingindo as consciências e transformando relações.
Em face a tudo isso, a Campanha da Fraternidade nos recorda
que educar não é um ato isolado. É encontro no qual todos são educadores e
educandos. É tarefa da própria pessoa, da família, da escola, da Igreja e de
toda a sociedade. Afinal, como nos ensina o conhecido provérbio de origem africana,
“é preciso uma aldeia para se educar uma criança”.
* Este é o texto de apresentação da CF 2022, extraído do
Texto-base da campanha.
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